Como no ano passado, as chuvas estão atrasadas e temperaturas mais altas são esperadas. Entre previsão da Conab em 2020 e o que foi colhido de fato, Brasil perdeu o equivalente à produção de SP e SC juntos
A primavera começou no dia 22 e junto com ela a nova safra agrícola do Brasil. Apesar de a maior parte das regiões produtoras já estar liberada para plantar, não é o solo que tem a atenção dos agricultores, mas sim, as nuvens. Assim como aconteceu no ano passado, as chuvas estão atrasadas, o que impacta diretamente no início do plantio. Sem umidade no solo, as sementes simplesmente não germinam. Já é possível identificar chuvas em regiões de Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul, porém, ainda muito irregulares e em volumes insuficientes para recompor os estoques hídricos do solo.
“O padrão climático que bloqueava o início das chuvas já foi quebrado. Estamos prevendo um atraso para o início das precipitações, porém, não tão grande como foi no ano passado. Acreditamos que a partir da segunda quinzena de outubro as chuvas passam a ser mais regulares”, afirma Márcia Seabra, coordenadora geral de meteorologia aplicada do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), órgão ligado ao Ministério da Agricultura.
Depois do que aconteceu na safra passada, as preocupações com o clima aumentaram de forma significativa. Isso porque, em outubro do ano passado, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) previu em seu primeiro levantamento de safra uma produção de 268,7 milhões de toneladas de grãos. O resultado foi uma colheita de 252,3 milhões, 6% a menos do que o inicialmente projetado. O percentual pode parecer pequeno, mas em termos absolutos, seria como dizer que toda a produção de grãos de São Paulo e Santa Catarina juntos tivesse desaparecido ao longo do ano.
Para Isabel Garcia Drigo, gerente de cadeia de abastecimento agrícola do Imaflora, as instabilidades climáticas dos últimos anos e seus efeitos sobre a produção agrícola nacional estão relacionadas com as mudanças climáticas. “Com a aceleração dos efeitos precisaria haver uma aceleração também das aplicações das soluções. Os lentos passos que a atividade agropecuária caminha para mitigar sua emissão de carbono só piora esse quadro”, afirma.
A expectativa é que tenhamos uma primavera novamente temperada pela La Niña, fenômeno climático em que se observa uma queda na temperatura superficial das águas do Pacífico. Com isso, a expectativa é de chuvas abaixo da média na região Sul, mas incluindo áreas de São Paulo e Mato Grosso do Sul e acima da média no Centro-Oeste e Sudeste do Brasil.
“Chuva acima da média não significa chuvas regulares. Pode ser que essas chuvas se concentrem em um determinado período, deixando o restante seco. O que vemos como certo é que as temperaturas, sim, ficarão acima das médias em todas as regiões do país”, afirma Márcia, do Inmet. Para ela, o padrão climático está mudando, os período chuvosos estão ficando menores e é preciso se adaptar.
Fonte: Bloomberg